terça-feira, 15 de abril de 2014

Divergente, Veronica Roth

Divergente

— Há décadas, nossos antepassados perceberam que a culpa por um mundo em guerra não poderia ser atribuída à ideologia política, à crença religiosa, à raça ou ao nacionalismo. Eles concluíram, no entanto, que a culpa estava na personalidade humana, na inclinação humana para fazer o mal, seja qual for a sua forma. Dividiram-se em facções que procuravam erradicar essas qualidades que acreditavam ser responsáveis pela desordem no mundo.

Divergente não me chamou a atenção no começo. Costumo me interessar por distopias com críticas mais específicas à sociedade, e esta me parecia meio estranha. Mas aí o livro fez um sucesso enorme, virou filme e eu, curiosa que sou para entender os hypes do momento, quis conferir. Gostei de Jogos Vorazes, quem sabe Divergente é tão bom quanto ele? Infelizmente, não é.

Vamos à história: a sociedade em uma Chicago futurista é dividida em cinco facções: Amizade, Abnegação, Audácia, Erudição e Franqueza. Beatrice tem dezesseis anos e precisa escolher para que facção ela vai. Seus pais são da Abnegação, mas ela se sente egoísta demais para viver lá. Ao fazer um teste de aptidão, seu resultado é inconclusivo, o que significa que Beatrice é Divergente. Ela ainda não sabe o que é isso, mas é algo perigoso e que irá mudar a sua vida.

Acho que a maior parte das críticas ao livro que eu vi — e com as quais concordo — é sobre a sociedade distópica, o mundo criado pela autora. Eu acredito que o mundo possa se dividir em facções? Ok, posso até acreditar. Eu acredito que o mundo se divide em facções para manter a paz? Não, não e não. Sério, não dá. O trecho que eu peguei por exemplo já mostra que as facções são uma furada. As guerras são causadas pelo quê? Por divergências — sem trocadilho, por favor. As facções criam o quê? Divergências — agora com trocadilho. Eu não consigo acreditar que as facções só vão entrar em guerra muito tempo depois de elas existirem, sem entrar em desacordo por só uma delas ter poder político desde o começo. E como as pessoas da Erudição, facção da inteligência, podem ser tão burras? Não me conformo.

Daí, dá para supor duas coisas: ou o mundo criado pela Veronica Roth é meio falho, mal construído, ou ela vai explicar melhor as coisas — que podem envolver manipulação e pessoas de fora dessa sociedade — nos próximos livros, e bom, eu não fico satisfeita com nenhuma dessas visões. Não tenho nada contra trilogias, mas acho que o primeiro livro tem que funcionar sozinho também, tem que ser bom o suficiente para a gente querer continuar lendo os outros, né. Mas Divergente parece ser feito exatamente para virar uma trilogia, para fazer sucesso como Jogos Vorazes. É praticamente uma introdução da história, não o primeiro volume de uma trilogia.

E aí a gente vai para o segundo problema principal do livro: o ritmo. A leitura é rápida e isso é um dos pontos fortes do livro, mas na verdade você lê, lê e nada acontece. Grande parte do livro é a iniciação da Beatrice na facção que ela escolheu, e eu acho legal como esse mundo novo é construído sem pressa. É uma leitura em que nada acontece, mas mesmo assim não te cansa. Mas aí você vê que passou de oitenta por cento do livro e não teve nenhum grande conflito. E, de repente, surge a reviravolta, uma aventura corrida no final e digna de filme de ação que indica o caminho que a trilogia vai seguir. Ou seja, mais da metade do livro é bem devagar, e o final vai rápido demais.

Sobre os personagens, eu não sei bem o que falar. A protagonista é interessante, forte e egoísta — e com consciência disso na maior parte do tempo! —, enfim, realista. E como personagem realista, dá muita raiva dela em uns momentos. Os outros personagens, em sua maioria, são simpáticos, mas pouco desenvolvidos, um pouco sem vida, mas isso é esperado em uma narração em primeira pessoa. Os personagens do bem são parecidos entre si e os do mal também. Fora um personagem, que mudou muito as suas ações e não sei se achei isso coerente.

Depois de falar tudo isso, eu tenho que dizer que, bom, eu gostei do livro. Sendo um pouco menos racional e suspendendo bem a descrença, é uma leitura envolvente e divertida. Não chegou a mexer muito com os meus sentimentos e, entre milhares de distopias, não entendi por que essa fez tanto sucesso, mas faz parte. Não é porque eu não me conectei tanto que outras pessoas não vão amar. Pretendo ler as continuações algum dia — talvez essa semana mesmo, com a história fresca na cabeça — e ver o filme. Aliás, tenho até a impressão de que talvez eu goste mais do filme. Divergente tem muita descrição de lutas e cenas de ação, e eu não sou muito fã disso em livros. Talvez na tela grande tudo fique melhor. Ou talvez os roteiristas mudem muita coisa e a história fique mais estranha e mal explicada ainda.   

Avaliação final: 3/5

2 comentários:

  1. Aff, fiquei com vontade de ler (e não quero ler logo!). Gosto de livros com furos :P

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  2. Muito boa sua resenha! Definitivamente concordamos. hahahaha Fiquei com vontade de ver o filme tbm...para mim, pode ser que o filme seja pelo menos daqueles que entretém. E considero ler os outros 2..mas não por agora. :D

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