quarta-feira, 27 de agosto de 2014

A redoma de vidro, Sylvia Plath

A redoma de vidro

Mesmo sabendo que devia estar agradecida à senhora Guinea, eu não conseguia sentir coisa alguma. Se ela tivesse me dado uma passagem para a Europa, ou para um cruzeiro ao redor do mundo, não teria feito nenhum diferença para mim, porque onde quer que eu estivesse — fosse em um convés de um navio ou num café de Paris ou em Bangcoc — estaria na mesma redoma de vidro, cozinhando no meu próprio azedume.

                                                                                               (A redoma de vidro, p. 170)

Minha irmã leu A redoma de vidro para um clube do livro do qual ela participa e eu aproveitei e li também. Fiquei curiosa para lê-lo desde que vi que várias blogueiras que eu acompanho leram e amaram, mas não fiquei com expectativas muito altas porque pensei que talvez não fosse o tipo de livro do qual eu costumo gostar. Mas o resultado foi bem positivo: adorei o livro.

A redoma de vidro conta a história de Esther, uma jovem americana. Ela sempre foi uma estudante dedicada e conseguiu um estágio em uma revista feminina em Nova York. Depois, quando ela volta para a sua cidade natal, descobre que não conseguiu uma vaga para um curso de férias que queria fazer e se sente mais perdida ainda sobre o que vai fazer depois da faculdade. Logo a sua confusão vira uma vontade de se matar, e Esther passa por uma série de hospitais tentando curar a sua depressão, que na época era vista como loucura.

O início do livro, que conta as aventuras de Esther em Nova York, me lembrou de O apanhador no campo de centeio. Nos dois, vemos uma narração em primeira pessoa honesta e um protagonista que sente que não se encaixa na sociedade. Esther parece estar fazendo tudo que pode para a sua vida dar certo, mas mesmo assim não consegue se sentir feliz e satisfeita. Essa parte do livro, que corresponde mais ou menos a primeira metade, é fácil de ler e é até engraçada em alguns momentos, mas não me deixou tão envolvida, tanto é que demorei uns três dias para ler as suas cem páginas. Foi uma leitura do tipo boa enquanto se está lendo, mas que não me fez sentir vontade de pegar e ler, ou continuar sempre para o próximo capítulo.

No entanto, essa sensação de falta de envolvimento parou quando cheguei na segunda parte, em que Esther se encontra sem direção e sem ânimo. Fiquei muito curiosa para saber que rumo a história ia tomar e o que a protagonista iria fazer — mesmo que eu já soubesse o final da história.

Acho que um dos fatores que faz as pessoas gostarem tanto desse livro é a identificação com a personagem, já que quase todos nós passamos por momentos de dúvida, sobre estarmos no caminho certo, o que devemos fazer... Esther não sabe o que vai fazer da vida — se deve fazer o que é esperado dela, que é casar e ter filhos; se é ter algo seguro, saber taquigrafia para poder ensinar ou usar em um emprego, ou se faz o que quer mesmo fazer, que é ser poetisa e escritora. A única certeza que ela tinha na vida era a de que se dava bem nos estudos e tinha talento para escrever, mas essa certeza é destruída quando sua participação no curso de um escritor renomado é negada. 

Além disso, muita gente já passou por momentos de apatia ou tristeza profunda, e Sylvia Plath os descreve muito bem. Aliás, mesmo que eu não tenha me envolvido tanto no começo, todo o livro é bem escrito, com sinceridade e toques líricos. Isso talvez aconteça porque a própria autora sofreu com a depressão e o livro é cheio de toques autobiográficos, de forma que ela escreveu sobre algo do qual tinha pleno conhecimento.

A redoma de vidro também apresenta questionamentos importantes sobre a condição da mulher. A orelha da edição que li diz que a voz poética de Plath é absolutamente feminina. Quando li isso, fiquei um pouco irritada, porque ninguém diz que um poeta homem tem uma voz masculina, por exemplo. Se a escritora é mulher, tem que dizer que é feminina, mas se é homem, é considerado que ele fala sobre todos. Enfim, o que eu queria dizer é que depois de ter terminado o livro, até entendo o que a sua orelha quer dizer, pois Esther sempre se questiona sobre o papel da mulher e com isso acaba mostrando o machismo da época.

Bom, para concluir, a leitura de A redoma de vidro foi uma experiência marcante para mim, e é um livro que tem crescido quanto mais eu penso sobre ele.   

Avaliação final: 4,5/5

Um comentário:

  1. Nunca tinha ouvido falar desse livro, mas com sua resenha fiquei curiosa! Vou colocar na lista de leituras!
    Samara - www.infinitoslivros.com

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