quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Diário absolutamente verdadeiro de um índio de meio expediente, Sherman Alexie

Diário absolutamente verdadeiro

Ser pobre é um saco, e é um saco saber que, de alguma forma, você merece ser pobre. O cara começa acreditando que é pobre porque é burro e feio. Depois começa a acreditar que é burro e feio porque é índio. E como o cara é índio, ela começa a acreditar que está destinado a ser pobre. É um círculo feio e o cara não pode fazer nada para sair dele.

A pobreza não dá forças a ninguém, nem dá lições de perseverança. Não, a pobreza só ensina o sujeito a ser pobre.

Conheci Diário absolutamente verdadeiro de um índio de meio expediente pela Folhateen (saudades!), antigo caderno adolescente da Folha de São Paulo. De lá até eu de fato comprar o livro, foram necessários alguns anos e uma promoção na Americanas, com o preço de 4,90. Disso até eu lê-lo, foi preciso de mais alguns anos e do tema de livros banidos do Desafio Literário Skoob. Tem alguns livros que a gente compra e se arrepende logo depois, ou perde um pouco a vontade de ler. Não foi o caso de Diário absolutamente verdadeiro… Eu só demorei para ler porque às vezes acontece isso, eu demoro para ler mesmo. E, felizmente, não me decepcionei com a leitura.

Ao contrário do que o nome indica, não é um diário absolutamente verdadeiro. É ficção, mas baseada na vida do autor Sherman Alexie. O protagonista, Junior, compartilha várias das características do escritor, mas não podemos saber até que ponto aquilo aconteceu de verdade ou não. Basicamente, o diário conta o cotidiano de Junior em uma reserva indígena Spokane, suas relações com a família e os amigos e sua mudança para outra escola, fora da reserva, de alunos brancos. Junior é o primeiro índio da sua reserva a ir para fora desse jeito e isso trará vários conflitos durante a narração.

A narrativa de Junior, em primeira pessoa, é muito honesta, e ele fala sobre tudo sem pudor. Por isso, o livro não esconde temas como pobreza, violência, racismo, distúrbios alimentares, alcoolismo, sexo — e masturbação. Como resultado, algumas bibliotecas americanas acharam melhor banir o livro, por que é lógico que se os adolescentes não lerem sobre esses assuntos, eles vão ser protegidos e nunca terão que lidar com isso de outra forma, não é? Só que não.

Eu gostei bastante do Junior, porque ele é bem humano. Fiquei irritada com a forma que ele fala de mulheres, mas a sua sinceridade me conquistou e não tive como não torcer por ele. Algumas pessoas reclamaram da falta de verossimilhança da história, especialmente no final, mas não posso julgar isso, porque não sabemos se esses acontecimentos foram reais ou não e é bem verdade que a vida é muito mais inverossímil que a literatura. Dito isso, tenho que concordar que alguns aspectos ficaram um pouco soltos na narrativa, sem muito desenvolvimento.

A leitura é bem rápida e alterna momentos divertidos e tristes. Junior gosta de desenhar, então o livro é recheado de ilustrações e quadrinhos. Acho importante ressaltar a representatividade da história: é o cotidiano de um índio nos dias de hoje, escrito por um índio. Inclusive fiquei curiosa para ler os livros adultos do autor, que também exploram o assunto.

Avaliação final: 4/5

2 comentários:

  1. Marilia,
    Eu entendo completamente o que você disse sobre comprar o livro e ele ficar um tempão esperando na estante, por isso, eu gosto tanto do Desafio do Skoob, escolho livros que já estão por aqui, mas que por um motivo X eu não leria nesse momento, mas daí chega o mês do desafio e é um motivo para tira-lo da estante.

    O que me pareceu interessante nesse livro é justamente nos mostrar um grupo social que geralmente não é representado na literatura não dessa forma e afinal o qual a função da literatura senão nos mostrar um mundo que não conhecemos?

    Abraços,

    Dani Moraes
    www.asverdadesqueopinoquioconta.blogspot.com.br

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    1. É por isso que participo de desafios literários também, para estimular a leitura de livros parados na estante. E gosto muito de ler livros diferentes para conhecer um mundo que estaria distante de mim de outra forma, é de fato o que me encanta na literatura! :)
      Abraços

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