quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Marcelo no mundo real, Francisco X. Stork

Marcelo no mundo realApesar do termo tão vago e amplo, tenho a sensação de que sei o que significa e as dificuldades que isso envolve. Seguir as regras do mundo real significa, por exemplo, ficar de conversinha com outras pessoas. Significa não falar sobre meus interesses. Significa olhar as pessoas nos olhos e apertar a mão (…) Pode significar andar ou ir a lugares com os quais não tenho qualquer familiaridade, ruas de cidades cheias de barulho e confusão.

Marcelo é um jovem com uma forma leve de autismo. Ele ouve música dentro dele, tem um interesse grande por religião e não gosta de sair da sua rotina. No entanto, seu pai quer que ele conheça melhor o mundo real para que seu filho aprenda a lidar melhor com as dificuldades que a realidade apresenta. Marcelo não gosta da ideia proposta, mas aceita trabalhar durante o verão no escritório do pai, advogado. Lá ele aprende sobre competição, relações pessoais e injustiça, e tenta fazer a coisa certa, por mais que isso possa custar o bem-estar da sua família.

Me interessei por Marcelo no mundo real porque gosto de ler sobre personagens neuroatípicos. Acho importante conhecer outras realidades psicológicas, e uma boa forma de fazer isso é através da leitura. O Marcelo não é dos narradores mais difíceis de compreender: embora ele tenha suas diferenças, isso aparece mais fora da narração. Por exemplo, quando fala com outras pessoas, ele costuma referir a si mesmo em terceira pessoa, “o Marcelo acha isso”, mas quando ele está narrando, o texto é em primeira pessoa.

Além disso, a dificuldade de comunicação que o protagonista apresenta criou uma identificação fácil comigo. Também tenho problemas para falar com pessoas desconhecidas sem preparação, por exemplo. Isso e o fato dele trabalhar em um setor administrativo e ir aprendendo aos poucos, assim como fiz nesse ano, me fez desenvolver uma simpatia pelo personagem. Vê-lo crescer foi lembrar um pouco de como eu cresci também.

O problema do livro, para mim, foi quando ele parou de focar no desenvolvimento do personagem para ir para um pseudo-história de investigação. Claro, ela também ajudou o Marcelo a crescer, mas achei que ficou um pouco solta dentro do enredo. Além disso, o tom moral me incomodou um pouco. O mundo não é feito de heróis e vilões, e embora alguns personagens tenham os dois lados, senti que o maniqueísmo predominou.

Mas, no geral, foi uma leitura bem satisfatória. O livro prendeu a atenção e me deixou curiosa desde o início. Apesar dele não ser muito conhecido no Brasil, vale a pena tentar entender o mundo do Marcelo.

Avaliação final: 3,5/5

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